terça-feira, 22 de setembro de 2009

Prelúdio

Querem ler o prelúdio da versão 3? Não? Bah, como se eu ligasse. XD

ATENÇÃO, ESSE PRELÚDIO PODE - E VAI - SOFRER ALTERAÇÕES ATÉ O FIM DA ESCRITA.

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Prelúdio



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AE Polícia Dimensional [V.56214]
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[Protocolo de acesso do documento: 25651723541A25J00
Acesso feito por: Sol Maior – Regimento 2 – Código 003 – Detetive nível 1
Descrição do documento: Transcrição de fita cassete do diário de C. V. L., seis anos.
OBS: Identificações pessoais removidas na impressão e reprodução, de acordo com a diretriz 1.3.7b do código de sigilo do D.A.V.]


28 de agosto.

Aconteceu de novo. Ontem à noite.

Eu devia saber que ia acontecer, porque a Lua não tava amarela, ela tava vermelha. Me dá um pouco de medo, quando ela fica dessa cor.

Eu tava treinando a Musette. Já tô tocando mais rápido que anteontem. Será que vai demorar até eu tocar bem rápido?

Mas então. Eu tava tocando a Musette. Aí, assim, de repente, eu vi um clarão vermelho no meu mindinho. Fingi que não tinha visto nada e continuei tocando, mas eu tava tremendo. Aí, minha mão toda ficou vermelha. Todinha! Eu sentia que não tava molhada, mas quando olhava, parecia que tava encharcada de sangue!

Aí, eu virei a cara, porque não queria ficar vendo aquilo. Só que na parede da sala tinha outra mancha. Uma mancha enorme, parecendo uma explosão.

Aquilo, pra mim, chegava! Decidi que ia pra sala de televisão ficar com a mãe. Ela ia me xingar, mas pelo menos, eu não ia ficar sozinha. Só que quando eu já tava na porta, não deu pra continuar. Tinha um menino ali, sabe? Um menininho do meu tamanho.

Quer dizer, não era bem um menino. Ele era transparente, que nem aquele sangue. E tava olhando pra mancha e chorando. Dava até pra ouvir! A mão dele tava vermelha do mesmo jeito que a minha. O engraçado foi que minha mão tava normal, quando olhei pra ela de novo.

Até que ver o menininho não me deu muito medo. Eu já tinha visto essas coisas transparentes, lembra? Tá gravado no início da fita. O que me deu medo, mesmo, foi que ele olhou de repente pra mim. Eu sei que foi pra mim! Ele andou pro meu lado! Aí, eu comecei a achar que ele não era gente transparente, era um fantasma.

Eu ia correr dali. Ia mesmo! Só que quando ele viu que eu ia embora, ele gritou e escondeu a cara na mão. E ficava dizendo “Eles morreram, eles morreram! Não me deixa sozinho, eles morreram!” Aí, eu não sabia que que eu fazia, porque não queria ficar ali com um fantasma sujo de sangue, mas tinha medo de ir embora, ele ficar com raiva, e voltar pra puxar o meu pé!

No fim, eu decidi sentar de novo no piano e começar a tocar aquela música que eu inventei. Aquela que eu gravei domingo. Aí, comecei a cantar umas coisas pra ver se o menino parava de chorar. Foi meio difícil, porque minha dor de cabeça começou a piorar. Ah, eu ainda lembro uma parte assim, ó: “Não tenha medo/ Pois vai clarear/ Estou contigo/ Não tem que chorar”. Cantei até parar de ouvir o choro dele. Mas aí, a minha cabeça já tava doendo tanto, mas tanto, que acabei vomitando, e devo ter desmaiado. De manhã, acordei aqui na cama.

Já escureceu e o fantasma não voltou. Acho que ele ficou feliz de eu não ter deixado ele... uh... deixado-o... sozinho, e não voltou para me assombrar.

Um fantasma que eu queria ver era o do meu pai. Tô com tanta saudade!

Mas eu já falei demais hoje, e não aconteceu mais nada de importante. Boa noite!


***



[Protocolo de acesso: 25651723541A25J01
Acesso feito por: Sol Maior – Regimento 2 – Código 003 – Detetive nível 1
Descrição do documento: Carta de J. D. S., 25 anos, para C. V. L., 16 anos.
OBS: Cabeçalho removido na reprodução, de acordo com a diretriz 1.3.7a do código de sigilo do D.A.V.]


Como vai a gatinha? Espero que bem. Continuo impressionado com sua inteligência. Sim, você estava certa em todas as suposições. Madame Mercier talvez tenha sido imprudente, mas o fato é que pouquíssimas pessoas observam que ela não mudou muito nos últimos duzentos anos. As pessoas dizem que é impossível, então, preferem acreditar em tudo, menos na verdade que salta aos olhos.

Quanto aquela lista. Acha que fiz mal em publicar? Mas as pessoas tem o direito de saber, não tem? Quero dizer, se seu vizinho é um vampiro, ou uma mula-sem-cabeça, você, no mínimo, tem o direito de se defender, certo? Além disso...

Depois de você ter me contado sobre ele, na última carta, tenho tentado descobrir mais sobre seu pai. Só o que pude apurar é que ele freqüentava o turno da madrugada do conservatório. Mantenho o que tinha dito antes: não há humanos normais nesse turno. Não sei o que ele era, mas você deveria se preparar para qualquer dia desses... Hã... Acontecer qualquer coisa com você. Se bem que você pode não herdar nada. Ou a herança pode nunca se manifestar. Mas não se assuste, o que não mata, fortalece.

Também não tenho pistas sobre o motivo da morte dele. Sei que tudo deve estar lá, nos arquivos da Madame Mercier, mas eles estão todos digitais, agora. E estão num formato incompatível com nossos sistemas operacionais. Já tentei invadir de todas as formas, sem sucesso. Acho que só funciona se usar um dos computadores lá de dentro.

Mas pra que pensarmos nessas coisas desagradáveis? Os dias tem andando bonitos ultimamente. Já tem muito tempo que nos correspondemos e moramos na mesma cidade. Não acha que seria um momento ótimo para um passeio na pracinha da prefeitura? Sem ser nesse fim de semana, no outro, o que acha? Sábado à tarde, talvez? Responda marcando o dia e a hora.

Já contei que estou aprendendo a fazer batatas gratinadas? Se bem que no momento ainda estão mais pra batatas queimadas.

Eu queria escrever mais, mas não tenho tempo. Vou continuar a investigação, e preciso trabalhar, também. Conselho de amigo: não compre um computador antes de fazer um curso básico de informática. Cada ocorrência que me aparece!

Espero sua resposta.

Um abraço.
J.

Ao coda

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