quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os 5 grandes mitos sobre jovens e livros juvenis

Hoje, no blog do Conservatório, escolhi falar sobre uma coisa que tem me incomodado desde uma conversa no MSN. O cara leu a sinopse d’O Conservatório e, a partir dela, disse que era algo para “adolescentes idiotas”. Mais ou menos no mesmo dia, um moço no Twitter ficou surpreso por eu ter comentado que comprei Crepúsculo numa promoção de 9,90 do Submarino. Pensou que eu odiava o livro.


Pode ser que ele tenha pensado isso por conta de zoações no blog Bram & Vlad. Pode ser que o culpado tenha sido esse post. Mas eu fiquei incomodada. Fazer piada de uma coisa é odiá-la? Reconhecer as limitações dela significa que você não gosta?

Bom, o fato é que eu gosto da série Crepúsculo. Não me entendam mal. Gostar não é amar, o livro não está no meu top 30 livros preferidos e nem sequer no meu top 10 histórias de vampiros (vou divulgar qualquer dia). Mas eu gosto. Acho divertido pra se passar o tempo, e pra se acalmar os hormônios em fúria lá pelo meio do ciclo menstrual. (É, os homens definitivamente não entendem isso...)
Agora, “adolescentes idiotas”? Caros amigos precocemente envelhecidos, que reclamam com todas as forças contra crepusculetes, emos e família Restart, o post de hoje é especialmente para vocês. Vou chegar de voadora nos cinco mitos mais recorrentes sobre adolescentes e livros juvenis. Proteja-se dos cacos ali atrás do muro de proteção, porque me baixou um humor Caçadores de Mitos, e vocês sabem que eles não detonam mitos apenas figurativamente.


Mito 1 – As adolescentes que soltam gritinhos quando o lobisomem aparece sem camisa no filme de Crepúsculo são menos inteligentes ou críticas que outras adolescentes que não exibem esse tipo de comportamento.

Esse é um mito recorrente e é um tremendo de um preconceito. Os que perpetuam esse tipo de opinião geralmente são homens, e acho que sei por quê.
Vamos voltar às aulas de biologia. O que é a adolescência biologicamente falando? Simples: entre outras coisas, é quando o ser humano fica sexualmente maduro e começa a produzir uma série de novos hormônios. Esses hormônios causam alterações de humor e cada sexo tem o seu, bem diferentes um dos outros.
Os meninos são expostos a doses cavalares de testosterona. O efeito colateral disso, tipicamente, é um comportamento agressivo e/ou competitivo. Não é à toa que homens jovens gostam de games violentos, eles os ajudam a libertar esse excesso de impulsos agressivos que eles, talvez, não tenham outra forma de extravasar.
Já as meninas vivem um misto de estrogênio e progesterona, se alternando ao longo do mês. É quando elas são apresentadas ao famigerado ciclo menstrual. Cara, se o misto de hormônios já bagunça a cabeça dos homens, pensem no que não faz na das meninas. Nós ficamos mais emotivas e desenvolvemos o hábito incontrolável de admirar garotos lindos (geralmente mais velhos), mesmo que só platonicamente. Aliás, eles nem precisam ser lindos de fato, nossa imaginação superfértil é que os faz assim. Nossos hormônios nos fazem agir como pavoas, babando pela cauda do pavão mais colorido. Mais tarde, nossos critérios para homens atraentes provavelmente vão mudar bastante, mas nesse momento de transição, é quase compulsivo.
Sendo assim, os gritinhos ao ver garotos bonitos não têm nada a ver com maturidade ou inteligência, têm muito mais a ver com personalidade. Uma menina mais tímida não vai gritar, mas certamente vai ficar toda “aiaiai”, como diria Sakura Kinomoto. Tenham paciência com as gritadeiras e não as desprezem, isso é uma fase e passa. Se não estivessem gritando por Edward e Jacob, certamente estariam gritando por outro bonitinho com carinha de menino qualquer. (Nesse momento, estou tendo lembranças de mim mesma, com quatorze anos, assistindo Entrevista com o Vampiro. Aiai.)
Vamos deixar claro: as forças que fazem as garotas gritarem por Edward Cullen são as mesmíssimas que fazem os garotos sentirem o que sentem quando estouram a cabeça de um zumbi num jogo ultrarrealista: hormônios. Vivam com isso.


Mito 2 – Ah, mas os ataques das adolescentes contra o Stephen King por ter criticado a Stephenie Meyer, sim, são provas de pouca inteligência ou capacidade crítica.
Esse mito é recorrente entre homens e mulheres. E é coisa de quem esqueceu o que é ser adolescente. Já falei no mito 1 sobre a biologia da adolescência. Agora, vou falar um pouco na psicologia.
Psicologicamente, a adolescência não é mais fácil que fisicamente. Até uns dias atrás, o indivíduo era uma criança bonitinha e todo mundo tinha paciência com ele. De repente, os adultos parecem pensar que aquela criança recebeu a visita da Fada da Maturidade, que, com sua varinha de condão, a transformou em um adolescente intelectual, educado, responsável e independente.
Se você acreditava na Fada da Maturidade, más notícias. Ela não existe. A do dente, sim. A Madrinha, sim. Sininho, sim. Mas a da Maturidade, não.
Adolescentes são aquelas mesmas crianças de antes, mas que de repente, passaram a sofrer doses cavalares e constantes de substâncias químicas reguladoras de humor e passam a ser tratados como mini-adultos, não como aprendizes de adultos. Então, eles têm que se virar com o que alcançam pra aprenderem sozinhos a serem adultos. É a hora que eles vão analisar friamente o comportamento dos adultos ao redor para tentar decidir o que vai entrar na constituição de sua personalidade ou não. É quando vão em busca de valores, de identidade, enfim, quando procuram vários modelos para absorver os conhecimentos do jogo que terão que jogar quando forem adultos de fato. Nessa idade, procuram amigos para trocar idéias e não terem que trilhar sozinhos esse aprendizado difícil e assustador.
Nada mais natural que adolescentes tenham ídolos. Um ou vários, a gosto do freguês. Quando um adolescente escolhe um ídolo, ele está dizendo ao mundo que gostaria de seguir aquele modelo de vida. Daí, vem alguém e critica esse ídolo. Pra qualquer pessoa adulta, isso é algo normal, direito de expressão, e tal. Para um adolescente, que ainda não conhece as regras da vida social, isso é uma ofensa pessoal. O crítico não está criticando só o ídolo. Ao falar que esse ídolo é ruim, está criticando a capacidade do adolescente de escolher seus modelos.
Trollagem adolescente é irritante, mas a gente tem que dar um desconto. O adolescente é o cara que foi obrigado a jogar um jogo sem saber as regras, e nem sempre tem alguém paciente do lado pra explicar se ele pode ou não jogar o dado e avançar uma casa. É preciso corrigir os adolescentes, sim, para ajudá-los a crescer. Mas nunca desprezá-los e dizer que são idiotas pelas coisas que fazem. Muitos trolls adolescentes, quando devidamente podados, se tornam pessoas muito inteligentes e razoáveis, boas de se conviver. Conheço alguns exemplos.

Quando não se poda os trolls adolescentes, eles viram aqueles adultos barraqueiros e frustrados que todo mundo que já freqüentou fóruns na internet já conheceu. Portanto, ajude o bem estar da nação e trate com respeito e firmeza os adolescentes revoltados, não com desprezo e escárnio. A sociedade agradece.

Mito 3 – As pessoas que aprendem a gostar de ler com Crepúsculo e outras modinhas não vão procurar os clássicos, só vai ficar em leituras semelhantes.
Oh, bem, claro, duh. Ninguém vai aprender cálculo diferencial e integral assim que aprende a somar. Tem um longo caminho a ser percorrido entre alguém que só lia as fofocas da revista e alguém que lê James Joyce. Logo depois de ler um livro pop, a pessoa vai querer outro livro pop. Pode levar anos até ela achar que esse tipo de leitura já deu o que tinha que dar e partir pra outras mais difíceis, com temas mais profundos.
Muitas pessoas acham bonito esfregar na cara de crepusculetes que lêem coisas mais “intelectualmente superiores”, achando que, com isso, elas vão se sentir envergonhadas em gostar de Crepúsculo e ler outras coisas.
Bom, você gostaria mais de Matemática se estivesse penando com seu dever de casa sobre inequações do segundo grau e eu dissesse que resolver uma integral tripla com coordenadas polares é algo que qualquer idiota conseguiria fazer?

Mito 4 – Escritores de livros juvenis e infanto-juvenis têm menos qualidade e mérito que os adultos.
OK. Fechem todas as escolas. O que importa é a faculdade, porque ela que vai te dar especialização para um emprego. Para que submetermos as crianças a aulas chatas e maçantes de escrita em cadernos de caligrafia? Para que darmos a elas livros didáticos rasos e incompletos, que não informam todo o mecanismo bioquímico por trás da fotossíntese? É tão simples!
É uma tendência humana incensar só quem deu as belas formas de uma casa, sem dar muito crédito a quem fez o trabalho braçal de erguer seus alicerces e fazer uma fundação segura e sólida. Pense em um cientista famoso qualquer. Você provavelmente encontrará quem foi o professor dele em sua especialidade. Pense em um escritor, e você terá uma lista de influências literárias e filosóficas que ele pode ter sofrido. Mas tente descobrir quem o ensinou a ler e escrever (caso não tenha sido a mãe ou alguém que teve uma história tocante ou interessante). Se essa pessoa não existisse, o cientista e o escritor em questão simplesmente não teriam trabalhado em seus campos de atuação, e seus nomes não teriam nos atingido. Ainda assim, os professores de ensino básico dessas pessoas são, em geral, ilustres desconhecidos.
Não precisamos ir longe. Uma simples pesquisa entre seus conhecidos mostra o quanto ganha um professor primário e o quanto ganha um de ensino médio, como são valores díspares e como o trabalho de lançar as fundações do conhecimento na criança é visto como algo “fácil” e pouco digno de valor. Sendo assim, não é surpreendente que ainda haja quem pensa que não há necessidade de existirem autores de livros infanto-juvenis/juvenis/jovens adultos/best sellers.
Volto a bater na tecla: a gente não aprende a gostar de ler do nada, já com um clássico complexo na mão. Se você não consegue entender como alguém lê os livros do Dan Brown feliz da vida, como coleciona todos os Paulos Coelhos sem remorso ou como essa pessoa torce o nariz pro Machado de Assis ou pro José de Alencar, dá pra simular isso muito bem. Pegue uma gramática de polonês e um dicionário polonês-português. Agora, pegue Guerra e Paz (ou outro similar, que você não tenha lido ainda) escrito em polonês e leia. Lá pela segunda semana, quando você não agüentar mais ler as cinco primeiras páginas pra entender o que está havendo, guarde Guerra e Paz e leia O Pequeno Príncipe em polonês.
Dá para entender agora por que quem não é fluente em leitura prefere obras de linguagem simples, trama pouco complexa e tamanho relativamente pequeno, não?
Com o tempo, você, caso faça esse experimento, vai ficar cada vez mais fluente em polonês e poderá, em certo ponto, pegar de volta o Guerra e Paz para ler. Mas não vão ser um ou dois livros simples que vão te habilitar a isso. Daí eu pergunto: o que seria de você se não fossem os autores que produziram os livros pequenos e simples a mancheias?
Tudo bem, o autor de livros para crianças e jovens tem grandes chances de não entrar no rol de grandes nomes da literatura mundial, caso fique só nessa área. Entre outras coisas porque atualidade é algo que fisga muito os jovens em uma leitura, e a atualidade envelhece. Mas isso não significa que o papel desse autor é menos importante ou menos nobre que o de um autor de livros clássicos.
E se você acha um absurdo que tais livros “para iniciantes em leitura” batam sempre recordes dos mais vendidos, em detrimento do que possuem mais qualidades acadêmicas, lembre-se de quantos coleguinhas começaram com você uma faculdade qualquer, e de quantos efetivamente terminaram. Nem todo iniciante se sente motivado a ir até o fim em algum aprendizado, então, é absolutamente normal que livros de “qualidade duvidosa” (tremo quando vejo isso) estejam sempre no topo dos mais vendidos. Provavelmente, sempre estarão, e acho que qualquer autor, não importa seu estilo, devia ficar feliz com isso. Quanto mais exemplares o best seller vende, maior a chance de novos leitores chegarem à “maturidade”.


Mito 5 – Escrever livros infanto-juvenis é fácil.
Quando ouço isso e penso nos mais de cinco anos que passei mexendo no meu romance juvenil beta, dá vontade de bater na pessoa que professa esse mito. Sério.

Quer dizer, a pessoa honestamente acha que, quando diz “estou escrevendo um juvenil”, isso imediatamente a isenta de todo e qualquer esforço de pesquisa, de composição de personagem e de verossimilhança da trama? Olha, isso em si já é um mito muito grande. Agora, quando ela ainda se justifica dizendo que “os adolescentes não vão notar, mesmo, eles engolem qualquer coisa”, aí, eu só tenho duas coisas a dizer: (1) Seu preguiçoso! (2) Seu babaca! Nunca subestime seu público-alvo, ele pode saber bem mais que você.

Como eu disse nos mitos anteriores, escrever juvenil é uma escolha de tema e linguagem. Não é uma escolha de mais ou menos esforço, mais ou menos preocupação com a qualidade. Isso também se aplica a infantil, infanto-juvenil, e mesmo best sellers. Uma coisa é você reconhecer que as pessoas que vão te ler provavelmente ou vão estar atrás de entretenimento puro, ou estão dando os primeiros passos para serem leitores “maduros”. Outra, totalmente diferente, é achar que isso faz dessas pessoas um bando de idiotas, que não têm a mínima chance de saber como uma instituição do mundo real funciona, ou como uma pessoa apaixonada se comporta. Digamos que você escreva um livro juvenil que tenha uma guerra imaginária onde o Brasil tomou parte, e que não pesquise lhufas sobre nosso exército antes de escrever. O jovem médio pode até não entender como funciona a hierarquia do Exército Brasileiro, mas e se seu livro for lido pelo filho de um soldado? Que tal receber uma crítica arrasadora e embasada de um rapaz de 15 anos? Nem que seja para o bem do seu ego, respeite quem te lê.


Era isso, pessoal. Se tem algum mito que vocês achem importante e queiram detonar, os comentários estão abertos pra você. Faça bom uso!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Estilizando o vampiro - parte final, ou A crítica que criou um monstro

Até agora, comentei sobre algumas coisinhas importantes que fui aprendendo ao longo de todo o tempo que escrevo. Nos últimos dias, fiquei meio em dúvida se fazia a parte 3, contendo minha experiência pessoal, ou deixava quieto na parte 2, mas acabei decidindo que valia a pena investir na parte 3. Não tanto para cumprir a promessa feita desde a parte 1, mas porque pensei numa terceira coisa que seria legal que todos os escritores - de vampiros ou não - tivessem em mente. E é a importância de uma crítica.

Muita gente acusa um crítico maldoso de destruir sua carreira literária no nascimento, mas eu diria que foi justamente uma crítica que me fez querer escrever. Não fosse isso, eu teria investido em fazer HQs. Não é um caso incomum, mas tem uns links lekais lá no fim, um fluxograma binitim e pokémons vampiros, então, acho que vale a pena. Sentem que lá vem a história.

Minha estilização dos vampiros não foi feita, em boa parte, de cabeça fria e caso pensado. Começou sabe-se lá quando, com desenhos animados diversos, numa época em que minhas histórias eram situações desconexas que tinham nuvens como cenário ou "fanfics mentais" com meus desenhos preferidos.

Com o decorrer do tempo, as histórias das nuvens ficaram ligeiramente mais complexas, mas não fugiam muito desse confronto meio parecendo partida de xadrez, e as "fanfics mentais", cada vez mais distantes do desenho que as gerava. E foi aí que veio a febre Pokémon, que me pegou em cheio e me abriu o mundo dos animes e mangás. Uma amiga minha me apresentou a um site de fanfics de pokémon e foi amor à primeira vista. Vocês devem estar pensando: "Peraí, ela vai falar de POKÉMON? Cadê os vampiros?" E seu eu disser a vocês que metade dos pokémons eram vampiros? Sério. O site se chamava "The Unknown Mountain", talvez o amigo de um amigo de vocês conheça.

Para encurtar essa conversa, que já vai bem longa, empolguei, entrei no clima e escrevi uma fanfic de seis capítulos para pedir para publicar no site (no segundo capítulo, os pokémons não eram mais importantes...). Só que antes de enviar para a publicação, eu, menina desconfiada que sempre fui, pedi para a amiga em questão (uma loirinha muito legal que serviu de primeiro molde para a aparência e personalidade da Strix, aliás) para dar uma lida no negócio.

Ela leu rápido e foi sincera: estava ruim, ainda mais que a história tinha umas reviravoltas tão bruscas e um deus ex-machina TÃO descarado no fim que era risível. Puxa, eu estava feliz com o simples fato de ter escrito algo com começo, meio e fim! Sabe quando você estuda igual a um condenado para uma prova, acha que foi em e tira 10... só que em 30 pontos? Foi essa a sensação.

Eu podia ter dito algo como "cansei de brincar!" e voltado às minhas HQs amadoríssimas. Talvez agora, estivesse falando menos e desenhando mais e talvez Bram & Vlad tivesse mais tirinhas. Mas enfim. Sou teimosa. A crítica me fez jurar para mim mesma que eu refaria aquele negócio e sairia melhor. Quer dizer, escrever não podia ser tão difícil! (Eu tinha só 11 ou 12 anos, era jovem e inocente...) Foi assim que a loirinha criou um monstro uma aspirante a escritora.

Pois é. Esse tipo de atitude minha, mais tarde, seria o motivo pelo qual fiquei meio revoltada com Entrevista com o Vampiro, mas tudo a seu tempo.

Por bastante tempo, o que fiz foi ler mais vorazmente que nunca. Quer dizer, como eu escreveria sobre temas que não conheço? Como eu escreveria se não aprendesse com escritores como é que se escreve? Durante algum tempo, não escrevi nada de vampiros, mas lia muito sobre eles. E alguns ressentimentos começaram a fermentar em mim. Eles passaram por filmes do Drácula e culminaram com Entrevista com o Vampiro. Foi aí que criei os dois critérios que presidiriam minha estilização:

1 - Não acredito em criaturas que sejam essencialmente más e condenadas a serem monstros por forças alheias a suas vontades. Por isso, se eu escrevesse uma história de vampiros, não iria incorporar a ele nenhuma dessas emices. Rolaria conflito interno? Sim. Tentação? Sim. Mas eu não seria uma dungeon master malvada.

2 - Vampiros não são burros, caramba! Especialmente os que já tem séculos de existência. Será que NENHUM vampiro jamais teve curiosidade de conhecer mais sobre o próprio corpo? De saber como a dependência do sangue funciona? Droga, se eu fosse vampira e tivesse dinheiro o bastante para acender o fogão com nota de 100, eu montaria na mesma hora um esquema para comprar sangue de pobres de países subdesenvolvidos, transportar e vender o saquinho com boa margem de lucro. Chega da angústia de matar e chega de perder tempo com isso! E investiria o grosso do lucro em um centro de pesquisas que dissecasse (ou vivissecasse por x reais a hora, sei lá) vampiros para entender sua anatomia e criar mais conforto para minha não-vida. Sempre me incomodou que eu não visse vampiros empreendedores ou curiosos nas histórias que lia. (O carinha de O Vampiro que Descobriu o Brasil foi um que custou a cair a ficha, mas caiu.)

E foi em cima dessas duas insatisfações que moldei a imagem dos vampiros nas minhas histórias pouco a pouco. Pegando a primeira versão d'O Conservatório (originalmente, foi publicada em 2004 na lista de discussão do site Adorável Noite), anotações minhas daquela época, contos de 2007 e essa terceira versão, é visível quanta coisa mudou. É quase como ver aquele famoso desenho do macaco que vai andando cada vez mais ereto até virar homem.

Muita pesquisa entrou aí, e muitas coisas que eu aprendia do nada e via que era útil. Por exemplo, pesquisas sobre a porfiria me deram uma boa desculpa para alguns dos meus personagens andarem no Sol felizes e outros, não quererem ver o astro-rei nem pintado de ouro. (Tá, foi infame.) Um documentário sobre um menino que não sente dor acabou fazendo eu me questionar por que seres que se regeneram tão rápido precisariam sentir dor. Um outro documentário sobre defesa pessoal me mostrou como um caçador de vampiros humano poderia ter chance contra um vampiro em um corpo-a-corpo. E por aí vai.

Não foi um processo simples ou rápido, mas foi muito bom. Eu planejava mostrar o resultado final passo a passo, mas O Conservatório ainda está na fase beta e uns amigos estão lendo para me dizer se está legível, interessante e apontarem os defeitos mais grosseiros. Percebi que podiam sofrer interferência. Aliás, essa primeira leitura está sendo enriquecedora. A Ana Carol fez um diagnóstico bem legal. Sei lá, pode ser masoquismo da minha parte, mas de uns tempos para cá, por mais que doam à primeira vista, críticas mais me estimulam que me entristecem.

Para encerrar, já que falei demais de mim, vou fazer um momento utilidade pública e mostrar um diagrama simples de como lidar com críticas de maneira a não esmorecerem por elas. Divirtam-se.

domingo, 9 de maio de 2010

Estilizando o vampiro (parte II), ou Introdução à Antropofagia

Quando terminei o post falando sobre estilização de figuras mitológicas, usando o vampiro de exemplo, prometi que iria dizer como fiz minha estilização. Porém, aconteceram duas coisas: 1- Comecei a divagar o bastante para criar outro post e 2 - Encomendei o livro O Vampiro Antes de Drácula. Sendo assim, os fatos pertinentes ao Conservatório, em si, terão que ficar para a próxima. Primeiro, precisarei falar um pouco sobre antropofagia. Estômagos sensíveis, fechem essa tela.

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"Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente."

Assim começa o Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade. A maioria das pessoas talvez tenha uma vaga lembrança do chamado Movimento Antropofágico, das aulas de Literatura da escola. Foi um movimento criado por artistas modernistas (Arte Moderna, você conhece, né? NÉ?). Talvez uma lâmpadazinha se acenda em sua cabeça ao ver uma das pinturas mais icônicas desse movimento:


Esse quadro da Tarsila do Amaral se chama Abaporu, ou seja, "homem que come homem". Antropófago, em uma palavra. Mas o que isso tem a ver com a estilização de que eu falei no post anterior? Primeiro, entendamos o que era o Movimento Antropofágico. Em resumo resumidíssimo, ele pregava que nós devíamos "deglutir" a cultura de todos os povos que nos cercavam - europeus, africanos, índios, etc, etc - e usar seus elementos para construir nossa própria. A metáfora é fácil de ser entendida: quando comemos uma planta, um bicho (ou uma pessoa, claro), nós mastigamos, digerimos e absorvemos seus nutrientes. Eles são incorporados a nós e passam a ser parte de nós. Não somos couve porque comemos couve. A couve é desmontada, transformada e se torna parte do nosso corpo. O mesmo se daria com o contato com a cultura de outros povos: deveríamos mastigá-la, digeri-la, absorvê-la e usá-la para fortalecer nossa própria cultura, ao invés de simplesmente imitar os gringos.

Pois bem. Falei isso tudo porque é a metáfora que vou usar para falar sobre um tema que frequentemente causa polêmica entre os escritores: pesquisa para montar os personagens.

No post anterior, comentei sobre a importância de conhecermos o que vai na cabeça do leitor sobre uma criatura qualquer ao escrever sobre ela. A ferramenta para isso é a boa e velha pesquisa. Mas como fazer essa pesquisa? Quão fundo ir? Vamos atacar o assunto jackestripadoramente. Para efeitos didáticos, vamos dividir a pesquisa em duas: pesquisa acadêmica e pesquisa pop. (Isso não existe em lugar nenhum, eu é que obsessivamente categorizo qualquer coisa que ocupe meu pensamento por mais de cinco minutos. :P)
 
Pesquisa acadêmica seria a pesquisa que é feita sobre o tema nos meios acadêmicos. Se seu tema é vampiros, é saber de onde veio a lenda, como ela se desenvolveu, quais podem ter sido suas bases reais, o que os estudiosos dizem sobre ele e sobre seu simbolismo, etc, etc. Existe um time de escritores (geralmente os mais novos) que torce o nariz para esse tipo de pesquisa, achando um gasto de tempo inútil.
 
Pesquisa pop, por outro lado, seria a pesquisa sobre como o tema é tratado pela mídia. É saber o que já foi feito com aquele tema e o que caiu em gosto popular. O que os fãs acham do tema, o que é que está no topo das paradas de sucesso... Tem escritores (geralmente os mais velhos) que acha que ela se restringe a livros e é uma parte quase dispensável, se você fez bem sua pesquisa acadêmica.

Gente, nem tanto o céu, nem tanto a Terra. A imagem das duas asas encaixa muito bem nessa situação. Você não voa se uma dessas duas asas da pesquisa estiver atrofiada.

A pesquisa acadêmica é essencial para você saber a respeito do que está falando. Lembram-se de Jesus Cristo? "A verdade vos libertará." Conhecimento liberta. Quanto mais facetas você conhece do tema que está lidando (sejam vampiros, seja Idade Média), mais inspirado e seguro você se sente ao lidar com ele. Muitos problemas de trama que nos fazem ficar dias pensando podem ser resolvidos ao se descobrir o histórico de um ser mitológico. Num exemplo prático, digamos que você queira escrever uma história com elfos e orcs, porque acabou de leu Tolkien e quer criar uma história daquele jeito. Ao buscar conhecer "o elfo antes de Tolkien", ou a simbologia que os elfos e orcs têm no trabalho de Tolkien, de repente, pode ser que você descubra elementos novos para sua história, para criar algo original. Ler artigos, livros acadêmicos e manuais de mitologia pode ser chato no início, mas te juro: assim que você fizer a primeira descoberta bacana, que vai resolver aquele furo na trama que tava te assombrando, você toma gosto pela coisa.

Já a pesquisa pop pode parecer um pouco "tola", ainda mais se você não quer ser um autor de best-sellers (há quem não queira, OK?). Mas ela é fundamental! Saber o que as massas pensam, no mínimo, nos dá uma pista do que há no tema que você escolheu e que mexe com as emoções das pessoas. Além disso, a prática de se fazer pequenas homenagens a obras famosas do tema que você está escrevendo cria uma espécie de laço de afeto entre o leitor e seu livro. Não homenagens demais, que dêem a sensação que o leitor está jogando "onde está Wally?", mas algumas. E o mais importante: quando eu disse "obras", não falei só de livros. Falei de filmes, games, animações, mangás e HQs, e tudo o mais.

Já ouvi muitas pessoas dizerem "eu não gosto de ler livros com tema parecido com o meu porque, depois, eu copio o estilo sem querer". Gente, isso é natural e não é desculpa. Voltando à metáfora da antropofagia, quando você come alguma coisa e entra numa montanha russa logo depois, o resultado é óbvio: você vai vomitar um caldo semidigerido, onde pedaços do alimento original ainda são reconhecíveis. É preciso dar um tempo para o organismo digerir o alimento e absorver. Eu sou uma que não leio enquanto escrevo e vice-versa. Não consigo. Deixe essa pressa pra escrever pra trás, que não leva a nada. Seja um antropófago cultural: pegue a referência e dê tempo para que ela se torne parte de você, ao invés de ficar vomitando pedaços de cultura estrangeira. Só assim você cria identidade.

Um argumento oposto e igualmente preguiçoso é o de que "eu não fico lendo coisas com o mesmo tema que o meu pra ser original e não copiar ninguém". Gente, não se faz tijolos sem barro. E acreditem em mim, o leitor não liga A MÌNIMA se você leu ou não fulano. Se você fizer algo igual ao que ele fez, vão cair em cima do mesmo jeito. Afinal, COMO você não sabia que fulano fez algo igual? Nessas horas, a gente tem que ser humilde e pensar que nós não somos a pessoa mais criativa do universo. Uma simples referência àquele que teve uma ideia igualzinha à nossa já costuma bastar para transformar o que seria um "defeito" em um elo de ligação com o leitor. O que era um erro devido à desinformação se torna um atrativo.

Antes de encerrar o post, vou apresentar a quem não conhece o mapa da mina para quem quer ser um escritor sério e bem informado. Como nem sempre é possível ler/ver/jogar tudo o que sai sobre um tema, a gente geralmente tem que recorrer a resenhas, resumos e bate-papo com amigos. Mas o melhor lugar para você saber se é mesmo um escritor original ou não é http://tvtropes.org/. Esse site é uma wiki que cataloga vários "truques" comuns no desenvolvimento de uma trama (os tais tropos - eita palavra feia!), e dão uma lista impressionante das obras de todos os tipos onde eles aparecem e onde são subvertidos. Alguns tropos têm até exemplos na vida real. Usem o site sem moderação, mas cuidado. E não se deprima se perceber que tem mais de 300 obras que usaram o mesmo truque de narrativa que você. Só espero que se convença de que originalidade absoluta e total faz companhia a superfícies sem atrito e gases ideais.

Agora que estão armados até os dentes, boa sorte com a escrita e a estilização de personagens. o/

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Retorno aos vampiros na parte 3. Beijos!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Parada para o merchan

Pessoal, pessoal, pessoal! Vai sair na segunda quinzena de maio!

A Editora Draco vai lançar uma coletânea de histórias românticas estreladas por vampiros e adivinha quem tá lá? *pausa para dancinha da vitória* Clique aqui para ver o site da editora com a chamada do livro a minibiografia das autoras.

A capa ficou BEM menininha. Olha ela aqui:


Mas não se enganem, nem tudo é cor-de-rosa. O organizador, Eric Novello, fala sobre "Meu amor é um vampiro" no site dele e aproveita para fazer uma microsinopse dos contos. Dêem uma lidinha aqui.

Ele descreve meu conto como um "conto de fadas repaginado". Será que vai ficar bravo comigo se eu disser que a parte do "conto de fadas" entrou pra contar caracteres? XD Mas confesso que gostei mil vezes mais da versão que mandei pro livro que a versão original, mais enxuta.

(Outro detalhe que felizmente ficou de fora do conto é que o Pedro é um escritor boêmio, mulherengo e solteirão, mas que tem imaginação o bastante para passar por romântico. Esse tipo de informação quebraria o clima. XD)

No mais, só quero agradecer à ruiva Agnes Mirra, porque o conto foi feito usando como mote a citação do conto dela, "Inverno". Tem um tempão que a gente não se fala, mas continuo gostando dos delírios agnescos dela. =3

No mais, iuhul! \o/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Estilizando o vampiro, ou o erro fatal de Stephenie Meyer

Eu ia simplesmente chamar vocês para darem uma lida no beta do Conservatório, mas achei melhor fazer uma ligeiríssima nota sobre vampiros em geral, inspirada na pergunta com que vêm me enchendo o saco há um tempo: "por que o Diego toma sol e não acontece nada? Mimimi..."

Zente, desculpem se eu digo isso, mas vampiros se desfazendo em cinzas com inocentes raios de sol é uma invenção hollywoodianesca tão tosca quanto os vampiros brilhantes de Crepúsculo (é, Edward, Diego não perdoou você). O fato é que filmes são muito mais curtos que livros, então, há certas liberdades poéticas que foram tomadas com os vampiros ao longo dos anos que não existiam originalmente no mito.

Vocês devem estar se perguntando agora, então: por que os vampiros-fogueira foram aceitos enquanto os brilhantes são toscos, se nenhuma das duas pirotecnias tem qualquer base?

Antes de mais nada, vamos sair da esfera literária e aprender uma ou duas coisinhas bacanas sobre desenho. Existe uma técnica chamada "estilização". Estilizar significa reduzir uma figura às formas mais simples possíveis, sem que ela perca sua identidade. Pablo Picasso estilizou um touro em uma série de desenhos muito famosa:


Percebem? Entre o primeiro touro, o mais realista, e o último, apenas um punhado de traços, houve vários intermediários. Mas todas as figuras têm em comum o fato de que são, inegavelmente touros. A identidade do animal não se perdeu.

O que isso tem a ver com o assunto anterior?

Simples. Quando vamos nos apropriar de uma figura mitológica já conhecida, não somos obrigados a fazê-lo de forma absolutamente realística, como o primeiro touro, mas, ao estilizá-la, precisamos ter certeza de que estamos suprimindo traços realmente supérfluos. O touro estilizado de Picasso não pareceria um touro se o pintor tivesse se esquecido os chifres, por exemplo. Ou, se lhe tivesse dado o contorno de um cavalo, o faria parecer mais um cervo que um touro.

É aí que entra a diferença entre o vampiro-tocha e o vampiro-purpurina. Stephenie Meyer cometeu erros sérios de estilização ao criar seu vampiro. Ela manteve três atributos importantes do vampiro: ele é morto, ele é sedutor e ele bebe sangue. Fim de papo. Alguém percebeu que falta algo muito importante aqui? O @cericn e a @anacarolinars perceberam. Não?

Eles não são noturnos! Desde a aurora da humanidade, os vampiros são um mal. E, como dizia Conan Doyle, é à noite que os poderes do mal são exaltados. Parece bobagem, mas ao fazer com que eles andassem pra lá e pra cá impunemente à luz do Sol e quase não tivesse cenas à noite na série Crepúsculo, Meyer tirou os chifres do touro. Não é porque os vampiros brilham. É só que nosso subconsciente nos diz, instintivamente, que eles não se enquadram exatamente naquilo que nos acostumamos a chamar de vampiros.

Não tenho a pretensão de ser capaz de estilizar perfeitamente os vampiros. Até porque, acredito que possam haver formas diferentes de estilização, mas que tragam a mesma ideia. Para ilustrar o que digo, vou listar algumas características que acredito serem básicas de um vampiro, sejam visuais, sejam literárias (isso na minha cabeça, claro):

1 - Eles bebem sangue
2 - Eles se levantam de túmulos
3 - Eles são noturnos
4 - Eles são pálidos
5 - Eles têm caninos
6 - Eles encantam suas vítimas
7 - Eles são fortes
8 - Eles não morrem de morte natural

Acho que dá para começar com isso. Um vampiro com todas essas características é inegavelmente um vampiro para qualquer um. Mas eu o compararia ao penúltimo dos touros de Picasso. Acredito que um vampiro estilizado poderia conter tanto as características 1, 3, 7 e 8 quanto as características, digamos, 3, 6, 7 e 8. Sim, ele poderia se alimentar de algo que não sangue. Quanto casos há dos tais vampiros de energia? O caso dos caninos, admito, coloquei mais por questões estéticas que lógicas ou históricas. Mas é que, se você apresentar um smiley, ele logo será identificado como um ser humano. Se apresentá-lo com presas, será identificado como vampiro, tal a força dos caninos longos no imaginário popular.

Se você pegar 2, 7 e 8, terá um zumbi. A estilização estaria incompleta. Percebem? Há várias formas de se fazer a estilização, muitas que funcionam, mas um bocado que dá ideias erradas. Escolher as características certas nem sempre é fácil.

A moral da história não é, exatamente, a de que é dever de honra de um escritor ser convencional no momento de usar uma figura mitológica, nem esse blá-blá-blá intelectual chato. Gostem os ranzinzas ou não, Stephenie Meyer FEZ sucesso com seus vampiros incompletos, mas até muitos de seus fãs reconhecem que os vampiros dela são muito diferentes do tradicional. Receio que, se ela não tivesse atingido as leitoras em cheio com sua trama açucarada, ela seria um motivo ainda maior de piadas. Minha mensagem é que, se alguém quer se aproveitar de qualquer criatura mitológica, e pretende fazer isso sem criar uma criatura diferente e usar o nome antigo (o que pode dar certo se você é um gênio ou tem sorte, mas terrivelmente errado se não é ou não tem - e menos de 1% dos escritores são gênios, menos ainda têm sorte), tem que tomar cuidado na estilização.

É verdade que a imagem dos vampiros (por exemplo) mudou muito desde as primeiras histórias de cadáveres sugadores de sangue até hoje. Mas isso não foi de uma história para outra. Foi gradativo e, até onde pude notar correndo os olhos em histórias de vampiros do século XIX, eles acrescentaram muitas coisas ao mito original, mas tiraram bem poucas. Ainda usando comparações desenhísticas, creio que eles pegaram um rascunho (geralmente, criaturas mitológicas em seu estado bruto não são muito mais que isso, vide descrições de lendas brasileiras) e o arte-finalizaram, mas permitido que ainda fossem reconhecíveis os traços principais. Pegar esse desenho e distorcê-lo até só sobrar o branco dos olhos é como revisitar a Monalisa desenhando uma loura de biquíni. Pode ser um desenho sensacional, mas se a tal loura não tiver nem o sorriso misterioso da Gioconda, como um desavisado poderia dizer que se trata de uma revisitação de DaVinci?

Sejam responsáveis, pessoal. Ser original é criar coisas novas, mas ser original também é usar coisas antigas de um jeito diferente. Ficou muito na moda dizer “meus vampiros”, “seus vampiros”, “meu lobisomem”, “seu lobisomem”, mas isso é errado. “Vampiro” e “lobisomem” são ideias. Embora cada pessoa os veja de um jeito, existe aquilo que está no inconsciente coletivo. Não subestime o que as outras pessoas pensam a respeito do tema que você está tratando. São essas pessoas que vão te ler.

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(No próximo post, farei alguns comentários sobre como fiz minha estilização. Talvez ajude a dar uma ideia de como fazer isso pra alguém que não tenha ideia de como fazer. De bônus, virão uns links bacanas. Até lá. o/)

sexta-feira, 26 de março de 2010

E a obrigatória resenha de... Crepúsculo

Essa TINHA que entrar no blog, ara sô. XD Talvez um dia eu também tenha coragem de postar uma que fiz sobre o simbolismo bem-mal em Drácula. Talvez.

Essa resenha foi publicada na comunidade Escritores de Fantasia, em 14/01/2009

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Crepúsculo meio que surgiu como leitura obrigatória, para mim, principalmente pelo sucesso com as adolescentes e pré-adolescentes. Eu precisava ler, e ver até onde o livro tinha mérito por isso. Quer dizer, apesar de tudo, podia ser um livro bom. Muito restrito a seu público, mas bom. Fingi que era um artigo acadêmico e fui.


Para ser justa, preciso dizer que ele é nota 10 em termos de dizer exatamente o que uma garota no início da adolescência (e muitas ficam assim até a velhice... brr...) quer ouvir. Faça sentido, ou não. Quero dizer, meninas (a partir daqui, "meninas" vai significar qualquer mulher que aja como uma pré-adolescente, em qualquer idade) não ligam se não existem detalhes como ação, suspense, subtramas e essas coisas, desde que haja romance e fofocas. E isso, o livro tem.

Ouso dizer que, se tivesse lido Crepúsculo nos meus quinze anos, teria me envolvido bem mais com a trama. Assim como a protagonista, eu acabava de voltar para a geladeira da minha cidade natal depois de alguns anos numa cidade grande, e não estava particularmente animada.

O que me leva à conclusão interessante de que a personalidade e background de Bella parecem ter sido montados com todo o cuidado, para que a personagem tivesse empatia com o maior número possível de meninas. Quase toda adolescente/pré-adolescente pode ver alguma coisa sua nessa moça - ela parece ter sofrido todo tipo de experiência que se pode ter nessa idade.

Muitas pessoas reclamaram da falta de ação do livro, mas já expliquei isso... Ele é um livro para meninas. (Sem protestos sexistas aqui, pessoal.) Se algum rapaz gosta, é acidental. O público alvo nunca foram os homens e ponto. E posso imaginar minha irmã mais nova, de 16, devorando todas as páginas sem perder o interesse, ainda que a única briga da trama não tenha sido mostrada. (Raios! ) O fato de os vampiros brilharem ao Sol nem chega a ser um defeito (embora seja meio... ah, não consigo pensar em uma palavra que exprima isso): vocês estão carecas de saber o quanto mulheres gostam de coisas brilhantes. :D


OK, fui justa. Agora que soprei, peço licença de morder. =3

O defeito de Crepúsculo está em não ter elaborado melhor algumas coisas. Por exemplo, os diálogos entre Bella e Edward, no início da trama. Caramba! Dá pra perceber que a autora tentou criar algo misterioso, cheio de meias-respostas, e tal, pra criar um clima romântico. Pode funcionar com as meninas, mas não com um leitor mais experiente. Para mim, muitas vezes soavam como frases aleatórias, que dificilmente alguém diria numa conversa. Quando a autora, enfim, abandona a linha das meias-respostas, por parte de Edward, a coisa melhora um pouco. Mesmo assim, tem umas frases dele que, mesmo que você faça o desconto de ele ter seus 100 anos, pelo amor de Deus!

E, que fique claro, se a Bella usasse, só mais uma vez, a palavra “perfeição” para se referir a Edward, eu entraria no livro para dar um bofetão nela. Tá, toda menina cegamente apaixonada acha seu namorado perfeito. Mas tem maneiras menos acintosas de se colocar isso num livro. Mesmo num livro narrado em primeira pessoa pela adolescente em questão.

Falando nisso, acho que os personagens mais críveis na história toda são os colegas normais de Bella, e o pai da menina. Charlie é fofo. =3 Sabem, não sou muito exigente em termos de empatia com personagens. E tenho uma fraqueza vergonhosa por garotos ruivos de olhos verdes. Assim sendo, o fato de eu não ter dado a mínima para Edward Cullen é fato digno de preocupação para qualquer autor. Ainda mais com esse nome, um dos meus preferidos. (Tô falando que, se eu tivesse lido Crepúsculo há alguns anos...)


Na verdade, uma boa terapia não faria mal para os protagonistas do livro. Lembram que eu disse que Bella tinha um pouco de cada menina que pudesse ler o livro? Infelizmente, ela incorpora, e de forma alarmante, a obsessão que algumas têm pela presença do namorado. Bella não está apaixonada por Edward – ela está obcecada, de forma doentia. Tirando a perfeição (grrr...) física dele, e o fato de ele ter lá seus poderes, ela não dá mais nenhum motivo pelo qual gosta dele. Vez por outra, ela menciona que ele é gentil e atencioso, mas bem por alto. O negócio é ficar olhando pra ele, babando por ele, se derretendo quando ele olha para ela, quando sorri para ela. Mesmo levando em conta que ele tem o tal do “charme vampírico”, isso vai longe demais. E, depois que eles começam a andar juntos, a menina praticamente surta se Edward não fica com ela 24 horas por dia!

Já Edward, esse também tem sérios problemas. Acho que Bella está certa quando diz que ele tem múltiplas personalidades. É a única coisa que explica tantas mudanças de humor e tantas incoerências em tão curto espaço de tempo. Certo, eu entendi o que a Stephenie quis fazer com ele: mostrar que ele está balançado entre a vontade de estar com Bella e o medo de saltar no pescoço dela, se ficar perto demais. Perfeito. Nesse ponto, aliás, se encaixa muito bem o fato de ele estar sempre seguido a moça. Só que as atitudes dele simplesmente não fazem sentido! O mais verossímil, nessa situação, era ele não se dirigir a ela e adotar alguma linha de defesa – ou o silêncio, ou a permanente agressividade. Mesmo que se amaldiçoasse depois, por isso. Mas não, ele não pára de falar com ela. Faz a menina se derreter por ele (por falar nisso, como Bella disse, não dá pra acreditar que ele não saiba o efeito que causa nas pessoas), e depois diz “é melhor não sermos amigos”, “é melhor ficar longe de mim”... Seria melhor se a Stephenie se decidisse se queria um Edward complexado ou um Edward conquistador.


A coisa que achei mais no lugar, na personalidade do rapaz, é o fato de ele perguntar, de segundo em segundo, o que Bella está pensando. Afinal, ele estava acostumado a ler a mente de todos, e não saber o que a menina que ele gosta – justo ela – está pensando deve ser mesmo uma tortura. Isso, aliás, foi até um jeito legal de justificar o interesse dele por ela.

Outra coisa sobre Edward são todos os meses que ele passa visitando-a no quarto dela, sem rolar nada. (meses, porque li a série toda. :P) Aaaaah, qualé! Mais uma vez, a Stephanie não se decide que abordagem quer dar ao Edward, e acaba num meio termo sem bases. Se ele é tão complexado com a possibilidade de matar a Bella, o melhor era nem aparecer no quarto. Ele diz que sente desejo por ela – isso seria motivo suficiente para ou ele nem pôr os pés lá, ou mandar a precaução às favas logo de uma vez. :\ (Aliás, cá pra nós... Ficar vendo uma pessoa dormir a noite inteirinha pode ser divertido ou interessante? Por mais que ela fale no sono?!)


No fundo, Edward age como toda menina queria que o príncipe encantado agisse. Mas não sei se é possível existir alguém que aja exatamente assim. As pessoas são mais complexas que isso – mas não tão complexas a ponto de agir como Edward age.
A conclusão sobre os protagonistas é que eles não causam empatia em mim simplesmente por não terem individualidade. Bella é um amálgama de várias garotas (mais um transtorno obsessivo por Edward), e Edward é um misto de todas as expectativas que uma menina tem sobre o apaixonado ideal. Eles não são o que são, são o que querem que sejam. Isso tira muito da força deles, como personagens. Claro que eu concordo que Bella é mais um convite para que a menina se coloque no lugar da protagonista, e Edward, mais uma estátua para ser admirada (talvez por isso, Bella só goste da beleza dele, e mais nada), mas eu preferia que eles fossem mais gente.

Conclusão da leitura: a que eu esperava. Como eu disse lá no início, Crepúsculo é um livro para meninas. Só isso, mais nada. É um livro para as meninas se imaginarem, por um segundo, ao lado do namorado perfeito. Claro que é 100% escapista – nenhuma menina pode achar que, se agir como Bella, terá seu Edward. Na verdade, qualquer garoto de verdade se cansaria da obsessão da Bella, depois de algum tempo. Mas nada – nada – tira dele o mérito de mexer tanto com as fantasias de garotas adolescentes, a ponto de virar o fenômeno que virou.


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Complemento sobre os outros livros da série:
 
Bom, minha curiosidade é uma força da natureza forte demais pra ser ignorada, principalmente quando a chave para saciá-la está ao alcance. Eu tinha os quatro livros da série em mãos. Como poderia não lê-los?


Sim, Lua Nova é irritante. Mas tem uma parte boa, e essa parte é Jacob. Ele consegue, em Eclipse, o que faltava em Crepúsculo: dar uma individualidade a Bella e Edward. Eles finalmente descem de seus pedestais e viram gente, especialmente Edward. E a obsessão da Bella está muito mais controlada depois de Lua Nova. (Ufa!) Eclipse, o terceiro livro, é bem melhor que os outros dois e Breaking Dawn (o último lançado, sem tradução oficial) é melhor que Eclipse. :P

A Stephenie realmente evoluiu de livro para livro. Mas uma coisa, preciso frisar. Continua sendo um livro "de meninas" até o fim. Meu lado testosterona quer matar essa mulher por criar, em todos os livros, o maior climão de brigas homéricas e, em três dos quatro livros, fazer tudo acabar em pizza.

SPOILERS:



E, sim, depois de muito mimimi, os dois pombinhos finalmente vão pra cama. Depois do casamento, mas vão. E esse ato tem conseqüências, que é o que faz Breaking Dawn mais interessante que os outros. :D"

quarta-feira, 24 de março de 2010

Dando um twist no blog/Fuga de Rigel

Pessoal! Não tenho atualizado o blog do Conservatório simplesmente porque a história tem mudado mais rápido do que sou capaz de atualizar esse bicho. Só que fiquei pensando... Bem que dava pra eu dividir algumas coisas legais com vocês sobre livros, vampiros, paranormais & outros bichos. Sendo assim, vou ver se posto umas (mais ou menos) resenhas e uns making of da história. :D

Eu talvez devesse começar com minha resenha de Crepúsculo, mas tem uma que tou devendo há beeem mais tempo: a resenha de Fuga de Rigel, do Diogo de Souza. É um romance sobre paranormais, o que significa que Cristina deve ter algum interesse nele. :D

(É bom frisar que não sou boa crítica literária. Talvez fosse mais adequado dizer que isso é uma opinião minha. Leio por prazer, na maior parte do tempo, e é só.)

A história de como esse livro foi parar na minha mão é legal. Quando ele saiu, entrei no site e vi um preview de algumas páginas do livro. Fiquei curiosíssima e pensei: "Ei, eu quero esse livro!". Não é que, na mesma ocasião, houve um sorteio na comunidade Escritores de Fantasia, e eu ganhei o fulano, com dedicatória e tudo? Pois bem.

A história já começa eletrizante, com a fuga do garoto que dá nome ao título. A bem da verdade, em mais da metade do livro, o que Rigel mais faz é fugir, e tem umas escapadas muito bacanas. De todos os personagens, o que mais gostei foi o pai dele. Talvez porque seja o único "mundano" da história. =P

A trama do livro é ótima. Gostei muito, mesmo. Mas no final, fiquei com... sei lá, uma sensação que nunca consegui definir muito bem. Não é só pelo fato de que achei a cena final bem aquém do que poderia ser. Meio confusa, sei lá. É um algo além disso que não vi ninguém comentar, então, não soube comparar impressões para dar corpo a esse sentimento confuso.

No geral, porém, é um livro-pipoca bem legal, e tinha horas que até dava dor de cabeça de tanto eu querer chegar no fim, mas ter que parar por algum motivo. O site (http://www.fugaderigel.com.br/) complementa bem a leitura e tem a tabela dos atributos psíquicos dos personagens. Não posso negar que tenha me inspirado ao definir as paranormalidades d'O Conservatório.

Mais resenhas, tem no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/sobre/11542/resenhas:1

No próximo post, minha temida resenha de Crepúsculo. =D

Até lá! o/