quarta-feira, 2 de junho de 2010

Estilizando o vampiro - parte final, ou A crítica que criou um monstro

Até agora, comentei sobre algumas coisinhas importantes que fui aprendendo ao longo de todo o tempo que escrevo. Nos últimos dias, fiquei meio em dúvida se fazia a parte 3, contendo minha experiência pessoal, ou deixava quieto na parte 2, mas acabei decidindo que valia a pena investir na parte 3. Não tanto para cumprir a promessa feita desde a parte 1, mas porque pensei numa terceira coisa que seria legal que todos os escritores - de vampiros ou não - tivessem em mente. E é a importância de uma crítica.

Muita gente acusa um crítico maldoso de destruir sua carreira literária no nascimento, mas eu diria que foi justamente uma crítica que me fez querer escrever. Não fosse isso, eu teria investido em fazer HQs. Não é um caso incomum, mas tem uns links lekais lá no fim, um fluxograma binitim e pokémons vampiros, então, acho que vale a pena. Sentem que lá vem a história.

Minha estilização dos vampiros não foi feita, em boa parte, de cabeça fria e caso pensado. Começou sabe-se lá quando, com desenhos animados diversos, numa época em que minhas histórias eram situações desconexas que tinham nuvens como cenário ou "fanfics mentais" com meus desenhos preferidos.

Com o decorrer do tempo, as histórias das nuvens ficaram ligeiramente mais complexas, mas não fugiam muito desse confronto meio parecendo partida de xadrez, e as "fanfics mentais", cada vez mais distantes do desenho que as gerava. E foi aí que veio a febre Pokémon, que me pegou em cheio e me abriu o mundo dos animes e mangás. Uma amiga minha me apresentou a um site de fanfics de pokémon e foi amor à primeira vista. Vocês devem estar pensando: "Peraí, ela vai falar de POKÉMON? Cadê os vampiros?" E seu eu disser a vocês que metade dos pokémons eram vampiros? Sério. O site se chamava "The Unknown Mountain", talvez o amigo de um amigo de vocês conheça.

Para encurtar essa conversa, que já vai bem longa, empolguei, entrei no clima e escrevi uma fanfic de seis capítulos para pedir para publicar no site (no segundo capítulo, os pokémons não eram mais importantes...). Só que antes de enviar para a publicação, eu, menina desconfiada que sempre fui, pedi para a amiga em questão (uma loirinha muito legal que serviu de primeiro molde para a aparência e personalidade da Strix, aliás) para dar uma lida no negócio.

Ela leu rápido e foi sincera: estava ruim, ainda mais que a história tinha umas reviravoltas tão bruscas e um deus ex-machina TÃO descarado no fim que era risível. Puxa, eu estava feliz com o simples fato de ter escrito algo com começo, meio e fim! Sabe quando você estuda igual a um condenado para uma prova, acha que foi em e tira 10... só que em 30 pontos? Foi essa a sensação.

Eu podia ter dito algo como "cansei de brincar!" e voltado às minhas HQs amadoríssimas. Talvez agora, estivesse falando menos e desenhando mais e talvez Bram & Vlad tivesse mais tirinhas. Mas enfim. Sou teimosa. A crítica me fez jurar para mim mesma que eu refaria aquele negócio e sairia melhor. Quer dizer, escrever não podia ser tão difícil! (Eu tinha só 11 ou 12 anos, era jovem e inocente...) Foi assim que a loirinha criou um monstro uma aspirante a escritora.

Pois é. Esse tipo de atitude minha, mais tarde, seria o motivo pelo qual fiquei meio revoltada com Entrevista com o Vampiro, mas tudo a seu tempo.

Por bastante tempo, o que fiz foi ler mais vorazmente que nunca. Quer dizer, como eu escreveria sobre temas que não conheço? Como eu escreveria se não aprendesse com escritores como é que se escreve? Durante algum tempo, não escrevi nada de vampiros, mas lia muito sobre eles. E alguns ressentimentos começaram a fermentar em mim. Eles passaram por filmes do Drácula e culminaram com Entrevista com o Vampiro. Foi aí que criei os dois critérios que presidiriam minha estilização:

1 - Não acredito em criaturas que sejam essencialmente más e condenadas a serem monstros por forças alheias a suas vontades. Por isso, se eu escrevesse uma história de vampiros, não iria incorporar a ele nenhuma dessas emices. Rolaria conflito interno? Sim. Tentação? Sim. Mas eu não seria uma dungeon master malvada.

2 - Vampiros não são burros, caramba! Especialmente os que já tem séculos de existência. Será que NENHUM vampiro jamais teve curiosidade de conhecer mais sobre o próprio corpo? De saber como a dependência do sangue funciona? Droga, se eu fosse vampira e tivesse dinheiro o bastante para acender o fogão com nota de 100, eu montaria na mesma hora um esquema para comprar sangue de pobres de países subdesenvolvidos, transportar e vender o saquinho com boa margem de lucro. Chega da angústia de matar e chega de perder tempo com isso! E investiria o grosso do lucro em um centro de pesquisas que dissecasse (ou vivissecasse por x reais a hora, sei lá) vampiros para entender sua anatomia e criar mais conforto para minha não-vida. Sempre me incomodou que eu não visse vampiros empreendedores ou curiosos nas histórias que lia. (O carinha de O Vampiro que Descobriu o Brasil foi um que custou a cair a ficha, mas caiu.)

E foi em cima dessas duas insatisfações que moldei a imagem dos vampiros nas minhas histórias pouco a pouco. Pegando a primeira versão d'O Conservatório (originalmente, foi publicada em 2004 na lista de discussão do site Adorável Noite), anotações minhas daquela época, contos de 2007 e essa terceira versão, é visível quanta coisa mudou. É quase como ver aquele famoso desenho do macaco que vai andando cada vez mais ereto até virar homem.

Muita pesquisa entrou aí, e muitas coisas que eu aprendia do nada e via que era útil. Por exemplo, pesquisas sobre a porfiria me deram uma boa desculpa para alguns dos meus personagens andarem no Sol felizes e outros, não quererem ver o astro-rei nem pintado de ouro. (Tá, foi infame.) Um documentário sobre um menino que não sente dor acabou fazendo eu me questionar por que seres que se regeneram tão rápido precisariam sentir dor. Um outro documentário sobre defesa pessoal me mostrou como um caçador de vampiros humano poderia ter chance contra um vampiro em um corpo-a-corpo. E por aí vai.

Não foi um processo simples ou rápido, mas foi muito bom. Eu planejava mostrar o resultado final passo a passo, mas O Conservatório ainda está na fase beta e uns amigos estão lendo para me dizer se está legível, interessante e apontarem os defeitos mais grosseiros. Percebi que podiam sofrer interferência. Aliás, essa primeira leitura está sendo enriquecedora. A Ana Carol fez um diagnóstico bem legal. Sei lá, pode ser masoquismo da minha parte, mas de uns tempos para cá, por mais que doam à primeira vista, críticas mais me estimulam que me entristecem.

Para encerrar, já que falei demais de mim, vou fazer um momento utilidade pública e mostrar um diagrama simples de como lidar com críticas de maneira a não esmorecerem por elas. Divirtam-se.