quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Maratona de cinema

Nossa, tem mesmo tanto tempo que não escrevo aqui? o.o

Eu pensei que tinha postado meu artigo acadêmico sobre Agatha Christie aqui. D: Oh, well, fica pra outro dia, porque agora, quero falar da minha jornada pelos filmes clássicos de Drácula. :3

Quando alguém fala em voz alta o nome “Drácula”, é difícil dizer o que vai na mente dessa pessoa. É um dos personagens mais revividos, recontados e reinventados da cultura pop. Embora tenha sido apresentado ao mundo por Bram Stoker no ano de 1897, é seguro afirmar que a maioria das pessoas tem uma figura dele em mente que foi moldada no cinema a partir do filme Drácula, de 1931, com o Bela Lugosi no papel-título. Sendo assim, Drácula não é um, é muitos. Para conhecer esses muitos, decidi assistir aos filmes mais clássicos de Drácula por aí e formar minhas próprias opiniões.

Como tenho uma tirinha que é derivada do livro Drácula, é justo dizer que tenho mais familiaridade com ele do que com os outros retratos do personagem. Toda vez que vou fazer um arco narrativo importante e/ou introduzir um novo personagem, acabo lendo o livro quase todo de novo – já devo ter lido de capa a capa umas seis vezes, e conheço alguns trechos quase de cor. A parte boa é que não é um sacrifício pra mim fazer isso, porque gosto do livro e vim a amar os personagens. A parte ruim é que isso faz com que eu pareça obcecada por esse livro, a ponto de não ter outro assunto. (o que é mentira, também sou obcecada com Agatha Christie).

Antes de mais nada, deixa eu explicar que não sou o tipo de fã que entra em combustão quando o filme desvia meio milímetro do livro. Livros tipicamente contém horas de plot se desenvolvendo, filmes tipicamente dispõem de duas horas e pouco, quando muito. É temporalmente impossível para um filme dramatizar o livro, e um tanto pobre, também. O filme é sempre uma interpretação do livro. Pra mim, existem filmes bons, que contam sua história ou passam bem sua mensagem e filmes ruins, que se perdem no caminho. E também existem interpretações que eu acho legais ou não, mesmo que eu saiba, no fim, que todas são válidas.

Isso dito, acho que vocês vão entender melhor quando eu classificar os filmes - há um componente meu analisando o filme pelo filme, e um meu analisando o filme contra minha percepção do livro.

Quem dispuser de algum tempo pode ser apresentado à minha percepção lendo meu recap do livro aqui e aqui. Se vocês não tiverem esse tempo, vou resumir os traços que creio serem os mais fortes do livro:

No primeiro ato, Jonathan Harker é mandado para a Transilvânia para vender casas ao Conde Drácula. Apesar de ser recebido com gentileza, Harker logo descobre que algo está muito errado com seu anfitrião.
Passando para o segundo ato, o Conde vai para a Inglaterra, onde ataca a melhor amiga da noiva de Harker. Ela tem um noivo e dois outros pretendentes. Um deles, um psiquiatra preocupado com ela, chama seu mentor e amigo, o Dr. Van Helsing. Esse mesmo psiquiatra está estudando um louco, que parece ser profundamente afetado pela presença de Drácula.

No terceiro ato, Mina e Jonathan Harker se juntam ao grupo, que passam a perseguir Drácula até sua morte.

Os personagens mais marcantes são, em um plano mais próximo, o heroico casal Harker (ambos contribuem com seus diários para a narração) e Renfield, através dos olhos de Dr. Seward (outro narrador). Num plano mais alto, Drácula e Van Helsing, como os dois reis que se digladiam no tabuleiro de xadrez que é a trama. Lucy tem um pouco mais de estofo que outros personagens, mas sua vida relativamente curta como narradora tira um pouco de sua força. Arthur e Quincey são quase descartáveis, pelo pouco desenvolvimento que têm. O Dr. Seward tem uma voz própria, mas ele, como Watson, é um personagem que mais reage do que age. Ele começa reagindo a Renfield (e é graças a ele que Renfield ganha cor e importância, assim como Watson glorifica Holmes) e depois se torna o "leal amigo e biógrafo" de Van Helsing. Entre Renfield e Van Helsing, Seward acaba totalmente eclipsado.

Sabe, pensando bem, não é coincidência que Peter Cushing tenha interpretado Sherlock Holmes e Van Helsing. O que faz dele meu ator preferido ever.

Quando eu for comentar os filmes, é contra isso que vou compará-lo ao decidir se gosto ou não da adaptação. Talvez ajude vocês também a entender minhas análises o fato de que meus personagens preferidos são, do mais preferido ao menos: Van Helsing > Mina > Jonathan > Seward > Lucy > Renfield > Quincey > Arthur >>>>>> Drácula (no livro de Stoker, ele é um vilãozão vitoriano, que mata, estupra, coage e engana sem remorsos, é difícil gostar dele).

Ótimo. Passemos pros filmes.


Nosferatu (1922): Estou falando do filme mudo, não dos remakes. Filmes mudos são uma arte quase que à parte do atual cinema, é interessantíssimo. Recomendo a quem puder assistir. Pra quem não conhece, Nosferatu foi a primeira versão de Drácula para o cinema, e, como os produtores não tinham a permissão da família Stoker para fazer o filme, os personagens têm nomes diferentes (Drácula é Orlok e Mina é Elen, por exemplo). Algumas cópias do filme tiveram os nomes restaurados para os nomes originais do filme. A que eu assisti foi uma dessas cópias.

Só um beijinho, vai.

O filme é uma adaptação muito boa do livro, embora o fim seja uma reescrita total. Sério, os produtores tiraram leite de pedra ao fazer uma história fechadinha e cheia de atmosfera com tão pouco. Os personagens que ganham destaque são "Jonathon", "Nina", o Conde e Renfield. A economia de palavras e de tempo (o filme só tem uma hora e meia) levou a vários cortes e adaptações (praticamente não há o segundo ato com Lucy, por exemplo), mas o filme resultante é bem amarrado e tem uma personalidade bem próxima.

Acho legal como o filme escolheu retratar o Conde como a personificação de uma praga, uma doença, e como "Nina" é a grande heroína do filme. Ela salva até seu marido, através do que parecem ser quase poderes psíquicos. Não, sério. Seu marido passa a maior parte do filme correndo apavorado, os médicos não fazem nada além de estabelecer quarentena na vila da história e tentar tratar as vítimas de Nosferatu como se tivessem a peste. Ela é quem lê como acabar com o vampiro, ela sofre com a indecisão enquanto mais e mais pessoas morrem e ela se sacrifica pelo bem de todos, ao fim. ♥ eterno.

Nosferatu também tem a distinção de trazer a tradição de que o Sol destrói vampiros - ele era uma mera inconveniência para Drácula, mas literalmente reduz Nosferatu a cinzas.

Drácula (1931): É o famosíssimo filme da Universal, com o Bela Lugosi. Ele é filmado em preto e branco e ainda tem uns resquícios do cinema mudo (por ser mudo, esse tipo de cinema conta mais com expressões faciais exageradas dos atores, por exemplo). Aqui, Jonathan é substituído por Renfield no primeiro ato. E um Renfield bem gatchenhow, diga-se de passagem (ele é um velhote no livro). Mais tarde, Jonathan aparecerá como personagem, mas ele é quase um coadjuvante, e o cara cético que vai dizer que vampiros não existem e o professor está variando. A grande estrela do filme é, sem sombra de dúvidas, Bela Lugosi. As expressões dele como Drácula são impagáveis. Dwight Frye como Renfield está tão insano que também rouba suas cenas. Os outros personagens acabam ficando ligeiramente apagados por eles.

Você está me dizendo que no livro, Drácula tem um bigodão? E pelos na mão?! EW.

É irônico que a versão autorizada do livro seja menos fiel à história que a “versão pirata” que era Nosferatu. Não acho que seja um filme totalmente ruim (a atuação de Lugosi é realmente magistral), mas vou falar a verdade, eu ri em mais de um ponto e fiquei cheia de perguntas em outros tantos.

Quero dizer, acompanhem comigo: o Conde compra uma propriedade e se apresenta a seus vizinhos logo que chega à Inglaterra. Ele diz, por extenso, a casa onde está e que é um prazer conhecer Seward, sua filha Mina e a amiga deles, Lucy. Certo? Certo. Daí, mais tarde, mais ou menos quando Lucy morre, o Prof. Van Helsing (em sua versão com mais cara de cientista alemão ever) descobre que o Conde é um vampiro e O CONFRONTA ABERTAMENTE sobre isso. DUAS FREAKING VEZES. A primeira pergunta que surge é: OK, o professor é imune à hipnose do Drácula. Mas isso não seria mais razão ainda pro Conde, sei lá, atirar um sofá nele e o matar de uma vez? Mas não, eles só trocam umas palavras educadas, como se estivessem discutindo porque o Conde deixou o vaso sanitário sem dar descarga.

Dê. Descarga.

Mais tarde, Van Helsing diz que precisa achar o caixão do Drácula e estaqueá-lo, e age como se isso fosse um graaaande mistério. Mas peraí, o Conde não está NA CASA AO LADO, FOR GOD’S SAKE? ELE MESMO DISSE ISSO! Acho que o mínimo seria, sei lá, examinar a casa ao lado e ver se ele realmente mora lá, ou se deixou alguma pista. Porque isso tipo que é meio um caso de via ou morte pra Mina. Mas nãããão, a pobre garota é quase morta e, mais tarde, sequestrada pelo vampirão. Nem assim, os personagens se dignam a, tipo, IR NA CASA AO LADO. Não, é preciso que o Renfield fuja do sanatório (ele foge tanto que me pergunto se a cela dele realmente fica trancada, ou se o enfermeiro-alívio-cômico Martin realmente se preocupa em vigiá-lo) e tente se reunir a Drácula pra que Van Helsing, Harker e Seward o sigam e se dignem a, tipo, ENTRAR NA MALDITA CASA AO LADO.

Mas sabem qual é o pior de tudo? O CONDE AINDA ESTÁ LÁ! Ele sabe que Van Helsing sabe que ele é um vampiro, e o professor jurou Drácula de morte! E, mesmo assim, ele está ali, na casa ao lado, onde ele disse que estaria, só esperando para ser estaqueado lindamente.

Junte tudo isso ao fato de que Jonathan é clinicamente retardado e você chega à conclusão de que não é surpreendente que gerações de fãs dos filmes de Drácula sempre torçam mais pro vampiro do que pros humanos. Apesar de que Drácula não é a ferramenta mais afiada da caixa, pelo menos ele tem um levantar de sobrancelhas realmente da hora.

Mina e Jonathan: Espera, nós somos realmente relevantes nesse livro! Vamos falar com nossos advogados.


Drácula, o Vampiro da Noite (Horror of Dracula, 1958): é o primeiro filme da Hammer, com Christopher Lee como Drácula e Peter Cushing como Van Helsing. Não riam do "vampiro da noite", isso não eram pleonasmo quando a história surgiu. Ainda assim, vou me referir ao filme como "Horror de Drácula", é mais fácil.

Já vou logo avisando: ele tem defeitos especiais. O sangue parece (e muito provavelmente é) guache vermelho, as presas dos vampiros são quase uma daquelas dentadurinhas de plástico que criança ganha em pacotinhos-surpresa e o Conde não se transforma em nenhum bicho pra economizar.

Olha nos meus olhos e ME DIZ que isso não é guache.

Esse filme segue fracamente os três atos do livro, sendo mais fiel no segundo, de Lucy. Peter Cushing é o astro do filme (veja o filme, o nome dele é o primeiro a aparecer e o maior - Lee aparece no "also starring"), então, não é surpresa que Van Helsing roube a cena. Nesse filme, ele é o mais próximo de um herói de filme de ação que um Van Helsing pode chegar sem desfigurar o personagem, tipo certas versões. *cofHughcofJackmancof*



Isso é o Van Helsing de Cushing tratando uma mordida de vampiro com um ferro em brasa, caso não tenha notado. (A cena é da continuação de Horror of Dracula, mas enfim.) Top that, Hugh Jackman.

O filme se foca, no primeiro ato, em Jonathan e no Conde. É interessante como, assim como acontece no livro, Drácula praticamente só fala nesse primeiro ato. Daí por diante, Van Helsing assume o protagonismo e mantém até o fim. No meio do caminho, ele toma Arthur Holmwood como Watson (esse Arthur é um misto do Jonathan Harker e do Dr. Seward do livro, com uma leve dose do Holmwood do livro). Mina é uma matrona, uma personagem simpática, mas que não tem a mesma força de sua homônima do livro. Renfield está totalmente ausente, ele não cabe nessa versão da história.

Um ponto curioso é que o filme tem três personagens femininas interessantes e impactantes que não vêm do livro: a filha anônima do taverneiro, que desobedece as ordens do pai para ajudar o Dr. Van Helsing; Martha, a bondosa e meio atrapalhada empregada de Mina e Tanya, a filhinha de Mina e Arthur, que rouba todas as cenas em que aparece. Faz falta uma personagem forte como a Mina do livro, mas, pelo menos, não temos só as donzelas em perigo.

Esse filme é mais amarrado que o do Lugosi, embora eu tenha coçado a cabeça por duas ou três vezes (Drácula achou mesmo que poderia se esconder na adega da casa sem ninguém notar? E por que raios ele tenta enterrar a Mina viva enquanto é perseguido? Wth?) As interpretações estão mais bem balanceadas. Cushing é Cushing e gosto do Van Helsing dele; além disso, os atores têm uma química legal entre eles.

OK, Team Drácula, uma foto do Christopher Lee pra vocês. Mas não acho o ketchup na boca digno.

O filme tem muito pouco a ver com o livro, pra falar a verdade, mas se sustenta tranquilamente como uma obra independente.


Conde Drácula (BBC, 1977): Esse é um filme que a BBC produziu direto pra TV. Oh, Deus. Oh Deus oh Deus oh Deus. Eu sou assex e não tenho pelo sexo um interesse mais do que acadêmico. Mas vou dizer pra vocês, se um dia eu fizer sexo, espero que ele faça pro meu corpo o que esse filme fez pra minha mente quando eu estava assistido. Já ouviram falar de um fã-gasmo? É uma palavra razoavelmente boa pra explicar minha reação a esse filme relativamente obscuro da BBC.

O filme tem 2 horas e meia (consideravelmente mais que seus antecessores) e, com a exceção de uma ou outra adaptaçãozinha que não prejudicou em nada a história (Mina e Lucy sendo irmãs, Drácula com mais falas além de vários cortes), é uma versão que faz jus ao material de onde saiu. Dá pra ver que foi feito por fãs do livro para fãs do livro.

A única mudança realmente gritante de tom é que Drácula tem mais falas, desafia mais os perseguidores, é mais sutilmente malevolente. Ele também acaba sendo mais sensual que sua contraparte livresca (anos de sexualização do Drácula no cinema não vão embora tão fácil), menos violento, mas o mal dele continua lá, sutil pra quem quiser ver. No livro, Drácula é muito mais um Lúcifer levemente disfarçado que um símbolo sexual, e nesse filme ele consegue ser um pouco dos dois.

Tá, eu posso não ter o bigodão, mas eu TENHO os pelos na mão.

Tem uma cena que achei particularmente forte e inteligente (e foi feita de uma forma infinitamente melhor do que acontece no livro): Van Helsing e Harker estão colocando hóstias nos caixões de Drácula, para impedir que eles o usem. Drácula entra de mansinho, pega um papel e algum dinheiro numa gaveta e só então bate a gaveta com força para se anunciar. Os dois homens pulam de susto e Van Helsing empunha um crucifixo. Drácula, então, tranquilo e sorridente, chama o professor de “supersticioso”, põe em dúvida a existência da alma de Mina, que eles querem tanto salvar, e se pinta como um homem que só quer seguidores. Ainda pergunta qual a diferença moral entre ele sugar o sangue das pessoas e os humanos comerem carne. Parece que ele venceu a discussão de longe, que é um homem calmo e racional sendo enfrentado por dois palhaços supersticiosos com mentalidade medieval e se mantém teimosamente em suas crenças fanáticas. Mas, e é aí que mora a inteligência da cena, Drácula não os ataca. Ele não se aproxima do crucifixo. Se o uso dele fosse “mera superstição”, por que o Conde escapa imediatamente, saltando pela janela e dizendo “Vocês pensam que não tenho mais onde descansar? Rá!” ao invés de a) destruir/converter os oponentes ou b) pelo menos sair da casa andando com dignidade, se ele quer passar uma imagem de racional e civilizado? Resposta: ele de fato é afetado pelo crucifixo, e ele realmente tem medo dos perseguidores. Sua máscara era uma tentativa de fazê-los perder a fé e baixar a guarda.

De resto, os personagens estão bem reconhecíveis, mesmo os que foram combinados (o filme combina Quincey P. Morris e Arthur Holmwood no personagem Quincey P. Holmwood, o que acho ótimo – Quincey é mil vezes mais legal que Arthur). As atuações são fabulosas, e o Van Helsing é tão fofo, ele parece mesmo o personagem do livro – vou poupar vocês de um rosário de aclamações ao meu personagem favorito, mas, só pra ilustrar de novo a sutileza maravilhosa do filme, ele mostra o lado cientista do Van Helsing quando ele prepara o círculo de hóstias em torno de Mina e insiste que ela o ultrapasse, para ter certeza de que ela não pode (e, consequentemente, as vampiras também não). Só então ele definitivamente adota o círculo como forma de defesa. Essa cena existe da mesmíssima forma no livro.

Eu também apostaria em uma chance de 78% de Van Helsing ser um timelord, ele certamente se parece com um (e se comporta como).

E, por fim, o filme tem SNIPER MINA! *-* E ela realmente acerta dois ciganos que estão ameaçando seu amado Jonathan e seu amigo Quincey. *-* Van Helsing não tem tanta sorte com seu alvo, mas ele estava se movendo mais rápido. Além disso, mesmo sem acertar o cigano, o professor tem uma contagem de corpos maior que a do Drácula nesse filme, então a gente pode perdoá-lo. xD

Enfim, ESSA é a adaptação que você deve assistir pra fingir pro seu professor que você leu o livro. Se tentar pegar qualquer outro filme, você se estrepa. Como é a versão mais fiel e mais inteligente, naturalmente é a mais obscura, o que é uma pena. Dizem que é a quase falta de efeitos especiais, mas convenhamos – eles quase não fazem falta. O filme tem uma atmosfera própria e a maquiagem dos vampiros e as marcas de mordida são muito mais bem feitas que em muito filme com mais orçamento. Se pelo menos eu pudesse confiar que Hollywood faria um remake sem estragar tudo, eu desejaria isso. Mas acho que é melhor que os americanos mantenham suas mãos longe dessa pequena joia. Ela é valiosa por si só.

Mas sério, WHAT THE HELL é isso, e porque isso acontece tantas vezes ao longo do filme?

Drácula de Bram Stoker (1992): E aqui, precisamente AQUI está a razão pela qual eu não quero que Hollywood adapte o filme anterior. Esse é talvez a única versão de Drácula remotamente próxima ao livro que a geração atual de internautas conheceu. Olha, vou falar logo de saída: o maior pecado desse filme é se marquetear como sendo “a versão mais fiel do livro já produzida” e pôr “Bram Stoker” no título. Maldito seja Coppola.


Do que você está reclamando? Eu tenho o bigode!

O filme realmente se mantém relativamente fiel ao livro, no sentido de ter a maior parte dos personagens e de ter a mesma estrutura em três atos. E é só. No setor de fidelidade aos personagens, só foram mantidos os nomes, de resto eles são irreconhecíveis. Eu sou chata no setor de personagens, admito. Além disso, Drácula virou o anti-herói desse filme, uma figura patética (no sentido real de patético, não no sentido ofensivo) que desenvolve um romance com a reencarnação de sua ex-esposa, com ambos movendo mundos e fundos para estarem juntos.

Minha sensação é que esse filme é meio “Bram Stoker encontra Anne Rice e os dois têm um filho bastardo”. Não me entendam mal, se você abstrai o fato de que o filme mentiu e não tem muito a ver com o livro mesmo, ou se você nunca leu o livro na vida (nem é um fã babante dele), é um bom filme. Como eu disse acima, o pecado desse filme é se vender como algo que ele não é. O Drácula desse filme é tão de Bram Stoker quando o Drácula de Don Drácula. E o que mais me irrita é que, anos depois, ainda tem um monte de gente que vê o filme e julga o livro com base nele, porque MEIO que o filme se vendeu como uma adaptação fiel. Se eu ganhasse um centavo pra cada pessoa que diz “mimimi, no livro do Bram Stoker o Drácula é um monstro feio, cadê a história de amor dele com a Mina, mimimi”, eu teria mais dinheiro que a Stephenie Meyer e a J. K. Rowling juntas.


Uh? "Excêntrico" não significa "clinicamente insano"? Oh. Bom, tarde demais, minhas cenas já foram gravadas.


Ah, enfim, o filme me irrita. Mas pelo menos sou honesta o bastante pra admitir que é um ódio todo pessoal. O que acho mais interessante no filme é que você pode assistir a cristalização dos clichês de vampiros da nossa época (anti-heróis atormentados, tudo o que querem é o amor de uma garota, cometem um ou dois homicídios só pra mostrarem que, ei, eles são emos, mas ainda são monstros, e por aí vai).

Hum, e o reencontro da Mina com o Jonathan depois da cena final vai ser muuuuito estranho.


E é isso aí. Eu sei que fiquei meio que devendo uma análise melhor de Drácula de Bram Stoker, mas... Ah, quer saber, fiquei devendo coisíssima nenhuma. Nunca prometi não ser tendenciosa. *pega o vudu de Coppola e põe uma agulha*

Quanto a vocês, bravos leitores, recomendo que assistam os filmes e formem suas próprias opiniões sobre eles. Foi um processo divertido pra mim, aposto que vão gostar.

E pra fechar essa maratona, uma outra foto do Van Helsing do Cushing. Porque o blog é meu e coloco fotos dos meus personagens preferidos o quanto eu quiser.

Ei, taverneiro, eu vi a comida se mexer!

6 comentários:

  1. "Bram Stoker e Anne Rice se conheceram e tiveram um filho bastardo" foi a melhor parte de todas.

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  2. Tem um problema no artigo despertando o meu TOC: "o maior pecado desse livro é se marquetear como sendo 'a versão mais fiel do livro já produzida'".

    No mais, excelente trabalho, Strix! Finalmente entendi porque a imagem icônica do vampiro é com cabelo lambido e gola alta! XD

    Btw, não gosto tanto assim de Drácula, Uma História, de modo que acho que ficarei mesmo com a boa impressão que tenho da versão do Coppola.

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    1. Já consertei, valeu, maninho.

      Bom, gosto é algo muito pessoal. xD Eu provavelmente gostaria se fosse um filme com um vampiro aleatório, mas uma vez que ele se diz o Drácula, eu meio que me sinto como se estivesse assistindo um Ducktales em que o Tio Patinhas não é rico, nem aventureiro e nem mesmo um pato. xD

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