quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Novidades novas e antigas - Algumas lições do escrever

Pessoal! Depois de um período de trabalho intenso, que terminou com a escrita d’O Conservatório, caí num período em que eu mal quis tocar na coisa de novo. Agora, uns seis meses depois do último ponto final, que culminou com a versão 3.1.1 da história, resolvi reler o filhote, porque... Deu vontade, oras. u_u


A primeira notícia é que eu mudei (já tem um tempo) o nome da história. Eu tava achando O Conservatório um título com cara de paisagem (sem trocadilho), e resolvi mudar para um mais significativo: Noturno em Sol Maior (com trocadilho). Tem um Sol Maior muito importante na história, o que faz com que o título acabe ficando adequado. O nome do blog não vai mudar, afinal, continua tendo um conservatório na história. :P

De repente, me deu uma comichão de falar da história, então, vou fazer uns posts especiais. Nesse aqui, quero falar sobre livros muito importantes que já escrevi e as lições que aprendi com eles. Eles nunca serão publicados, mas, sem eles, eu não tava aqui batendo a cabeça com escrita até hoje. Todo mundo que brinca de escrever (e, ocasionalmente, trabalha com isso) deve ter livros que serviram de treino pra escrita antes de arriscar pensar em publicar algo. Façam comigo essa viagem de nostalgia e dividam suas histórias nos comentários, se quiserem. :)

1 – O livro que me ensinou que eu também podia escrever.

Um belo dia, a nossa professora de Português da sexta série propôs que fizéssemos uma “feira literária” na nossa sala de aula, onde teríamos que contribuir com um mini-livro ilustrado, feito por nossas próprias mãos.

Até o momento, eu já tinha escrito redações e até fantasiado escrever um livro. Mas era algo distante: minhas fantasias de abrir um canil para vender pastores de Shetland eram igualmente vívidas (é, pois é). Foi quando tive o produto final de meus esforços literários em mãos que tive o momento de iluminação: “Ei! Eu não preciso escrever só redações de escola! Eu posso fazer alguma coisa além!”

A “obra” é essa abaixo. O desenho da capa é da minha mãe (!), a partir de um decalque dessa capa de Menino de Engenho. As ilustrações internas são minhas. Vejam só que looshoo. Conta um experimento de um menino-cientista-louco que não deu lá muito certo...


No dia da exposição dos livrinhos, só eu peguei o meu pra reler e admirar. :P Nesse dia, aprendi uma valiosa lição:

Não importa o quanto você se esforce para criar uma história e para ilustrá-la. Não importa o quanto você corra atrás para tê-la na banca junto com as outras e quantas peripécias você passe para encaderná-la a tempo: se colocam seu livro em exibição junto com livros de vampiros, ninguém vai mexer nele. Pelo menos, sempre vai restar em você a satisfação interna de que você criou sua história e seus personagens, e não resumiu e ilustrou a trama de um filme.

(Pra ser honesta, eu mesma só peguei pra ler os livros dos meus coleguinhas que tinham vampiros e terror. :P E isso foi em 2000, bem antes de Crepúsculo surgir.)

2 – O livro que me ensinou que eu tinha que perseverar

No ano seguinte, continuei com a mesma professora, que organizou de novo a feirinha. Dessa vez, eu tinha criado vergonha na cara e comprado revistas de “como desenhar mangá”, pra fazer a ilustração da capa. E o Eduardo, o personagem do livro anterior, tinha ganhado uma nova história, outra aparência, o Daniel virou irmão dele (antes, eles eram amigos), entre outras coisas. É incrível ver como amadureci e aprofundei o personagem em coisa de um ano. Resolvi contar essa história de como os dois irmãos estudaram até a quarta série num internato, e as coisas esquisitas que aconteceram lá (Chiquititas pode ter influenciado nisso...).

Esse desenho na capa é meu quarto desenho em estilo mangá. :P Os dois primeiros são desenhos dos personagens dessa história, sendo o primeiro uma menina dura como um pau e dos dois outros, praticamente iguais aos dessa capa. :P

Veio a exposição e... De novo, nem mexeram no bichinho. A lei natural da prevalência dos vampiros agiu de novo, e convenhamos... Fui praticamente a única naquele recinto que leu mais do que dois livrinhos. Meus colegas simplesmente não estavam nem aí, não eram metade da traça de livros que eu era. Tipo, quem quer ler os garranchos de seu próprio coleguinha, ao invés de um livro bonitão na livraria? Exceção honrosa foram um livro de vampiros canibais com ilustrações de membros decepados e um resuminho ilustrado de Terror em Amytville, que foram campeões de leitura. Esse livrinho era um legítimo “combustível de pesadelos, o livro de colorir”. Eu TIVE pesadelos com o porco fantasma satânico na janela (Samael, você não é o único a temer porcos satânicos, veja só). *medo*
Lição número dois: não importa o quanto você melhore de um livro pro outro em escrita e ilustração, você nunca será páreo para um livrinho de vampiros com sangue na capa. Ou para um livro com porcos satânicos.

3 – O livro que me ensinou que eu podia terminar uma história longa...

Entre o livrinho do item 2 e esse, existiu a fic de pokémons vampiros. Eu falo mais dela em outro lugar. Mas ela era uma história pequena. Livro, livro, mesmo, escrevi um foi no meu diário do Mickey com páginas perfumadas.

...Eu tinha um diário do Mickey com páginas perfumadas, ok? Presente de aniversário. Cheguei a escrever nele por algum tempo usando um código secreto (tão secreto quanto pode ser um código em que uma árvore simboliza o “a”, uma estrela o “e”, uma igrejinha um “i” e por aí vai...), mas enjoei rápido e as páginas ficaram ali dando sopa. Daí, resolvi preencher com uma história de detetives que eu estava maquinando já há bastante tempo. Sempre tinha sido uma história para me entreter, e eu nem sonhava em torná-la “séria”, escrevendo. Bom, toca a experimentar, né?

Quase enchi o diário com a história (ainda sem nome), que narrava as desventuras de Juliana, uma moça carioca que tem seus pais presos inesperadamente por tráfico de drogas e acaba indo morar com o irmão (que tinha sido tirado dos pais antes da Juliana nascer, justamente porque eles o negligenciavam para dar festas e vender drogas e, revoltado, acabou virando policial). Daí, ela vai pra Ouro Preto e acaba caindo de cabeça numa trama agathachristiniana, com direito a um ruivo baixinho com sotque francês (me processem).

A premissa é 800% mais legal que a execução, confesso. :P Poxa, é uma história escrita por uma menina de 13 anos num diário perfumado do Mickey. :P

A lição aprendida foi: o que quer que você escreva, escreva até o fim, mesmo que morra de preguiça o tempo todo. Isso te dá confiança de tentar vôos maiores.

4 – ...E que ela possivelmente vai ter que ser reescrita depois...

...Daí, dois meses depois de terminar a história do diário do Mickey, eu comecei a achar mais furos que os de uma peneira e decidi reescrever. Doeu contemplar o tamanho da tarefa, mas eu não ia deixar a história tosca como estava. u_u

Dessa vez, ela foi batizada de “O Ramo de Oliveira” e escrevi em páginas de caderno avulsas. Foram entre 50 e 60 páginas manuscritas, e pior: em letra de forma com diferenciação entre maiúsculas e minúsculas, ao invés de letra cursiva. Eu levo o dobro do tempo escrevendo assim, embora fique mais legível.

Ampliei umas coisas, expliquei outras, tentei dar um ar mais realista... E transformei a cena de julgamento em uma ainda mais agathachristiniana, com os personagens todos reunidos na sala de estar de uma mansão. *-*

Por muitas vezes, me amaldiçoei por estar refazendo o trabalho na unha, mas eu não ficaria satisfeita comigo mesmo enquanto continuasse vendo crateras que podiam conter o monte Everest com folga. As várias anotações nas margens das folhas, de compras a fazer, trabalhos a entregar, telefones e idéias para outras histórias mostram o quão longo foi o período em que me dediquei a reconstruir essa história.

A lição é: reescrever algo que você acha que está grotescamente ruim é um trabalho de corno. Mas como compensam os resultados!

(E, ainda assim, a versão 2.0 do Ramo de Oliveira não me deixou satisfeita. Mas a versão 3 é algo que ainda estou devendo a mim mesma. Talvez no futuro.)

5 – ...E que continuações são irresistíveis.

Vocês pensam que só porque levei meses reescrevendo O Ramo de Oliveira e não fiquei apaziguada com a versão final que isso me impediu de escrever uma continuação? CLARO QUE NÃO! Peguei um diário perfumado com um pégaso voando em direção à Lua (eu ganhava um diário desses todo ano – também tenho um vermelho com dálmatas) e comecei O Gato Esmeralda, sobre o roubo de uma relíquia egípcia sob o nariz de várias pessoas. Com direito a um ladrão lupinesco, que rouba o troço só por esporte.

Fato: não importa o quanto você encrenque com sua história. Na sua mente, ela SEMPRE vai ter uma continuação. Pode até não virar livro, mas vai ter continuação.

O Gato Esmeralda é menos viajado e forçado que O Ramo de Oliveira, mas ainda assim... Bom, digamos que eu continuo usando o cadeado nos meus diários antigos.

Bônus: algum tempo depois, escrevi um conto em três partes onde os personagens de O Ramo de Oliveira encontram o Eduardo e o Daniel. :D Crossover rulz! Ele tá online aqui, aqui e aqui. Até que não me envergonha muito, embora precise de um bom polimento.

6 – E, por fim, o livro que me ensinou que eu podia terminar uma história longa, e ela podia ser legal.

...E esse é O Conservatório, versão 1.0. :D Eu o publiquei em forma de folhetim na lista de discussão do Adorável Noite e foi a primeira vez que coloquei coisas minhas pros outros lerem. E a história foi comentada, vejam só. Por duas ou três pessoas, mas quem liga? *-*

Foi o empurrãozinho de auto-estima que eu precisava para seguir em frente. Já contei essa história milhares de vezes antes, então, vou pular pra lição:

Lição final: só um escritor sabe quantos livros se escondem por trás de um que ele mostra ao público.

Até! o/